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sábado, 16 de março de 2013

Terapia celular para diabetes tipo 1 avança


Uma estratégia é interromper o processo de destruição do pâncreas que ocorre em portadores de diabetes tipo 1 por meio de um transplante de células-tronco retiradas da medula óssea do próprio paciente


 Duas pesquisas em andamento na Universidade de São Paulo (USP) avançam o uso da terapia celular, com diferentes abordagens, para o tratamento do diabetes tipo 1 – também conhecido como diabetes infanto-juvenil ou insulinodependente.

Os resultados mais recentes das investigações foram apresentados durante o 7º Congresso Brasileiro de Células-Tronco e Terapia Celular, realizado em São Paulo no início de outubro, com apoio da FAPESP.

No Centro de Terapia Celular (CTC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) – a estratégia é interromper o processo de destruição do pâncreas que ocorre em portadores de diabetes tipo 1 por meio de um transplante de células-tronco hematopoiéticas retiradas da medula óssea do próprio paciente.

A técnica foi idealizada pelo imunologista Julio Voltarelli, que morreu em março de 2012. A pesquisa continua sob a coordenação de Maria Carolina de Oliveira Rodrigues e Belinda Pinto Simões. Também colabora o endocrinologista Carlos Eduardo Couri.

“Diabetes tipo 1 é uma doença autoimune: o próprio sistema imunológico do paciente ataca as células produtoras de insulina no pâncreas. Quando os sintomas começam a aparecer, é sinal que aproximadamente 80% das células já foram danificadas”, explicou Rodrigues.

Se o processo de destruição for interrompido nesse ponto e as células restantes forem preservadas, segundo a pesquisadora, é possível que o paciente consiga se livrar da dependência de insulina ou pelo menos diminuir as doses.

“Não falamos em cura, mas em facilitar o controle da doença e evitar complicações crônicas do diabetes, como retinopatia, nefropatia e neuropatia”, disse Rodrigues.

Com esse objetivo, foi iniciado em 2004 um primeiro protocolo experimental com 25 pacientes. Eles passaram por um procedimento para coletar e isolar células-tronco hematopoiéticas da medula óssea, que foram congeladas. Em seguida, foram submetidos a uma quimioterapia agressiva para destruir o que restava da medula e de todas as células do sangue (leia reportagem).

“O objetivo é zerar o sistema imunológico, fazendo com que ele pare de agredir o pâncreas. Em seguida, infundimos as células-tronco congeladas para que elas produzam uma nova medula e novas células sanguíneas”, disse Rodrigues.

De acordo com dados apresentados pela pesquisadora durante o congresso, três dos 25 pacientes permanecem até hoje livres de insulina. Outros 18 tiveram de voltar a tomar o hormônio após um período que variou entre seis meses e cinco anos, mas recebem atualmente doses menores do que antes do tratamento.

Outros quatro pacientes não conseguiram se livrar da insulina e nem reduzir a dose. “Três deles tinham histórico de cetoacidose, uma complicação comum em pacientes com estágio avançado da doença. Provavelmente, esses voluntários que não reagiram ao tratamento já não tinham mais células produtoras de insulina para serem salvas”, contou Rodrigues.

Com base nos dados preliminares do primeiro experimento, a equipe iniciou um novo protocolo em 2010. “As análises indicaram que a quimioterapia não foi forte o suficiente para destruir todas as células sanguíneas em alguns pacientes, então estamos testando um tratamento ainda mais agressivo”, disse.

Até o momento, apenas dois voluntários foram submetidos à quimioterapia e ao transplante. A equipe aceita inscrições (tmoautoimune@gmail.com) de novos candidatos maiores de 18 anos e diagnosticados há menos de cinco meses.

Paralelamente, em outro protocolo experimental iniciado em 2008, os pesquisadores do CTC tentaram modular o sistema imunológico de oito pacientes diabéticos por meio de aplicações de células mesenquimais.

“Essas células estão presentes em praticamente todos os órgãos do corpo humano e auxiliam no suporte dos tecidos, ajudam na nutrição e produzem fatores de crescimento. Nós as retiramos da medula óssea apenas para facilitar a coleta”, disse Rodrigues.

Nesse caso, as células mesenquimais são retiradas de um parente do paciente diabético. A expectativa dos cientistas é que elas consigam combater a inflamação no pâncreas e ajudar na regeneração do órgão.

“Existe ainda uma terceira hipótese, menos provável, de que as células mesenquimais seriam capazes de migrar e de se diferenciar em células do pâncreas produtoras de insulina. Isso ainda precisa ser estudado”, disse.

A resposta, no entanto, não foi animadora nos primeiros pacientes tratados e a equipe pretende iniciar um novo experimento em 2013. “A ideia é aplicar quantidades maiores de células mesenquimais. Como é um tratamento de baixa toxicidade e não envolve quimioterapia, poderemos testar em pacientes entre 5 e 35 anos”, disse Rodrigues.

Cápsula protetora

No Núcleo de Terapia Celular e Molecular (Nucel), coordenado pela professora Mari Cleide Sogayar e vinculado ao Instituto de Química e à Faculdade de Medicina da USP, a estratégia é encapsular as ilhotas pancreáticas – conjuntos de células produtoras de insulina – com um material biocompatível capaz de evitar a rejeição após ser aplicado no organismo do diabético.

“O método tem funcionado muito bem nos testes com animais. Implantamos ilhotas de ratos em camundongos para provar que a cápsula é mesmo capaz de evitar a destruição das células pelo sistema imunológico”, disse Sogayar.

As cápsulas contendo ilhotas de rato são implantadas no peritônio, membrana que reveste a parte interna da cavidade abdominal e recobre órgãos como o estômago e intestino. “Evitamos mexer com o pâncreas, pois ele é muito sensível e se inflama com facilidade. As ilhotas passam a produzir insulina em outra região”, explicou.

Após o tratamento, os camundongos diabéticos livraram-se completamente da insulina, segundo Sogayar. “Depois de 250 dias, retiramos as cápsulas dos animais por meio de uma lavagem do peritônio e conseguimos mostrar que as ilhotas estavam intactas. Os camundongos, por outro lado, voltaram a ficar diabéticos”, disse.

Como um camundongo vive aproximadamente um ano, é possível afirmar que o tratamento mostrou eficácia por quase toda a vida do roedor. “Mas em humanos, se for necessário, as cápsulas podem ser substituídas depois de algum tempo”, disse a pesquisadora.

Para facilitar esse procedimento, a equipe do Nucel trabalha, em colaboração com a empresa CellProtect (spin-off do Nucel), no desenvolvimento de um dispositivo, provavelmente subcutâneo, que armazenaria as cápsulas com as ilhotas e funcionaria como um pâncreas artificial.

“Um tubo ficaria para fora da pele e facilitaria a substituição das cápsulas, quando necessário. Mas primeiro precisamos descobrir como manter a irrigação sanguínea no local. Uma possibilidade seria usar fatores peptídicos como o VEGF (vascular endothelial growth factor) recombinante, que já é produzido pelo Nucel”, disse Sogayar.

Embora a ideia de encapsular as ilhotas tenha sido desenvolvida em pesquisas internacionais, a equipe coordenada por Sogayar conseguiu aperfeiçoar o método e criou um novo material biocompatível contendo uma proteína chamada laminina, que foi patenteado com o nome de Bioprotect. Parte da pesquisa contou com financiamento da FAPESP.

“A grande vantagem em relação ao transplante de ilhotas, feito com células de um doador humano cadáver para o paciente diabético tipo 1, é que as cápsulas dispensam o uso de drogas imunossupressoras, que possuem efeitos colaterais importantes. Além disso, há poucos doadores de órgãos”, disse Sogayar.

“No futuro, acrescentou, a ideia é transplantar cápsulas contendo células-tronco diferenciadas em células produtoras de insulina ou, até mesmo, ilhotas de porcos em humanos”, disse Sogayar.

Fonte: 

http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,terapia-celular-para-diabetes-tipo-1-avanca,945801,0.htm

sexta-feira, 15 de março de 2013

Técnica experimental da USP livra diabéticos das injeções de insulina

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,tecnica-experimental-da-usp-livra-diabeticos-das-injecoes-de-insulina,957350,0.htm


Tratamento testado no HC de Ribeirão Preto faz com que 21 dos 25 voluntários, todos portadores do tipo 1 da doença, deixem de receber as aplicações; o procedimento, estudado ao longo de nove anos, é baseado no autotransplante de células-tronco saudáveis


Uma terapia testada durante nove anos por pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto conseguiu livrar de aplicações de insulina 21 dos 25 pacientes com diabete do tipo 1 que participaram do estudo. Um deles está há oito anos sem tomar as injeções.
Os médicos utilizaram um procedimento chamado autotransplante de células-tronco saudáveis. A ideia é tentar construir um novo sistema imunológico para o paciente, uma vez que a diabete do tipo 1 é autoimune, ou seja, é o próprio sistema de defesa do corpo que passa a atacar as células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina.
Um dos beneficiados pelo estudo é o jovem Humberto Flauzino Guimarães, de 22 anos, livre das injeções de insulina há cinco anos. Ele diz que sua qualidade de vida mudou muito desde que passou a se tratar com células-tronco. Mas as recomendações médicas de fazer exercícios físicos regularmente e de ter uma alimentação saudável não foram abandonadas.
O estudo em Ribeirão Preto é conduzido pelo endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri. Hoje, antes da abertura do Congresso Brasileiro de Endocrinologia, em Goiânia (GO), o médico falou ao Estado sobre os avanços no tratamento. A evolução dos pacientes, diz, é algo “notável”.
Os resultados favoráveis no tratamento têm sido destacados em publicações especializadas, como o jornal da Associação Médica Americana. Isso porque, pela primeira vez no mundo, os níveis do peptídeo-C, uma espécie de marcador do funcionamento das células produtoras de insulina, aumentou nos pacientes submetidos à terapia.
Para Couri, as muitas dúvidas que a comunidade científica internacional levantou no início da descoberta já não se justificam. “Hoje, temos resultados práticos que provam que estamos no caminho certo”, garante. Mas, de acordo com o médico, ainda não é possível prever quando a tecnologia estará disponível a todos os diabéticos. “É uma terapia de longo prazo. Estamos falando de célula-tronco, algo ainda novo e que vem sendo discutido”, explica.
Procedimento. Na técnica aplicada por Couri, para evitar que o paciente tenha as células que produzem insulina destruídas, são realizadas sessões de quimioterapia que praticamente desligam o sistema imunológico do diabético. Mas, antes disso, são retiradas células de sua medula óssea, que depois são aplicadas na corrente sanguínea para construir um novo sistema imunológico. Esse transplante de células-tronco do próprio paciente faz com que o pâncreas volte a funcionar e elimina a necessidade da aplicação de insulina. Portadores do tipo 1 geralmente se tornam dependentes de insulinoterapia por toda a vida.
O estudo conta com os apoios do Ministério da Saúde, da Fapesp, do CNPQ e do SUS (Sistema Único de Saúde). Couri diz ter comprovado que os pacientes hoje produzem mais insulina do que quando iniciaram o tratamento. “Alguns deles estão com excelente qualidade de vida, muito diferente da vida que levavam antes”, afirma. A diabete do tipo 1 atinge entre 5% e 10% da população de diabéticos. No Brasil, a estimativa é de sete pacientes a cada 100 mil habitantes.
PARA ENTENDER
Doença costuma atingir crianças
Na diabete do tipo 1, também conhecida como diabete infanto-juvenil, uma vez que a doença costuma se manifestar na infância ou na adolescência, a produção de insulina pelo pâncreas é insuficiente, pois suas células são destruídas pelo próprio corpo.
Por isso, os pacientes necessitam de injeções diárias de insulina para manter o nível de glicose no sangue em valores considerados normais. Há risco de vida se as injeções não forem tomadas diariamente, em doses adequadas.
De acordo com os médicos, algumas condições podem estar relacionadas à doença: ter familiares próximos portadores de diabete ou apresentar excesso de peso, pressão alta e colesterol elevado. O mesmo vale para mulheres cujos filhos nasceram com mais de 4 quilos.
Os sintomas mais comuns da doença são: urinar excessivamente, ter muita sede e apetite aumentado, perder peso e sentir-se cansado, com a vista embaçada. Infecções recorrentes, principalmente de pele, também são comuns.




Proteína pode ajudar a detectar pressão alta

Na matéria do globo repórter de hoje 15/03/2013 foi citado a patente sobre a proteína que pode detectar predisposição à hipertensão arterial, achei este link, de uns anos atrás, mas que já mostrava o futuro promissor...

este é o link: http://www1.unimed.com.br/nacional/bom_dia/saude_destaque.asp?nt=15399

e seu conteúdo....

Proteína pode ajudar a detectar pressão alta
Brasileiros estão pedindo a patente de um marcador que foi localizado na urina 

LUCIANA MIRANDA 

Pesquisadores brasileiros estão requerendo patente sobre o uso do que pode ser um marcador de hipertensão, uma das enzimas conversoras de angiotensina (ECA), proteínas que atuam nos mecanismos de dilatação e contração dos vasos sanguíneos. A patente protege também a técnica que pode permitir, no futuro, o desenvolvimento de kits de teste para saber quem está predisposto a ter a doença. A patente também será solicitada nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. 

Enquanto cientistas do mundo todo corriam atrás de marcadores para hipertensão, as primeiras descobertas nasceram aqui mesmo no Brasil. A primeira fase de estudos, realizados por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo em cooperação com o Instituto do Coração (Incor), mostra evidências sugestivas de que a ECA com peso molecular de 90 kDa (quilodáltons, unidade de massa atômica) pode ser um marcador eficiente para hipertensão. A enzima é detectada por meio de exame de urina. 

"Levei 20 anos para chegar a essas evidências", afirma a bióloga molecular Dulce Casarini, da Unifesp, que descobriu a variedade de 90 kDa da ECA em 1982. De lá para cá, a pesquisadora duvidou muito de seus achados e insistia nos testes. Depois de fazer estudos em ratos, Dulce analisou a urina de 1.500 pessoas hipertensas e de 550 com pressão normal. 

O cruzamento dos dados dos testes com ratos e das análises em seres humanos mostra que a ECA 90 kDa está sempre presente na urina de quem é hipertenso ou desenvolveu a doença algum tempo depois do exame. Quem não tinha a ECA 90 kDa não se tornou hipertenso. 

Mais testes - Os pesquisadores estão agora na segunda fase dos estudos que pretende comprovar geneticamente os achados. O médico José Eduardo Krieger, diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Incor, explica que famílias com hipertensos serão acompanhadas para verificar se tanto a doença quanto a ECA 90 kDa são herdadas juntas ao longo das gerações. Também serão avaliados grupos maiores de pessoas de diferentes idades, sexo e raças. 

Se as primeiras evidências foram confirmadas, os kits para detectar quem tem predisposição a ficar hipertenso terão grande valor comercial, já que possibilitarão a prevenção mais eficaz da doença. Isso porque a pessoa com o marcador terá uma prova concreta de que deve mudar seus hábitos alimentares, perder peso, fazer exercício físico, parar de fumar ou de tomar anticoncepcional. 

Para o nefrologista Odair Marson, da Unifesp, ter a possibilidade de mostrar às pessoas um dado objetivo que revele sua predisposição para a hipertensão pode ajudar a convencê-la sobre a importância de mudar hábitos. "Quando as pessoas chegam ao consultório já estão com a doença avançada. Depois de um ano, só 20% estão seguindo o tratamento e com a pressão controlada." 

Fonte: O Estado de São Paulo - São Paulo/SP 

sábado, 2 de março de 2013